quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Amor de Perdição

    Amor de Perdição  
Memórias de uma família


                            CONTEXTUALIZAÇÃO
                                         Biografia

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu no dia 16 de Março de 1825 em Lisboa e morreu a 1 de Junho de 1890 em Vila Nova de Famalicão, São Miguel de Seide.
Foi um escritor português, romancista,cronista,critico,dramaturgo,historiador,poeta e tradutor. Foi dos escritores portugueses mais marcantes da literatura portuguesa.Teve uma vida muito atribulada,que de certa forma lhe serviu de inspiração para as suas novelas. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver apenas dos seus escritos literários.Na adolescência, formou-se lendo os clássicos portugueses e latinos e literatura eclesiástica e contactando com vida ao ar livre.
Camilo gostaria de se situar acima das escolas literárias. Mas os modelos clássicos vão ter sempre peso na sua produção literária, embora também se deixe impressionar pela literatura misteriosa e macabra de Ann Radcliffe. Foi imensamente influenciado por Almeida Garrett. Contudo, a fidelidade à linguagem e aos costumes populares, ao cheiro do torrão (como aponta Jacinto do Prado Coelho), vai permanecer como uma das suas maiores qualidades. A crítica tem apontado que, se por um lado Camilo, nos enredos das suas novelas, com as suas peripécias mais ou menos rocambolescas, está claramente numa filiação romântica, por outro lado, nas explicações psicológicas, na maneira como analisa os sentimentos e ações das personagens, pelas justificações e explicações dos acontecimentos, pela crítica a determinado tipo de educação, não pode ser considerado simplesmente como romântico.

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                     Personagens


Simão Botelho - Inicialmente é apresentado como um jovem de temperamento sanguinário e violento. Perturbador da ordem para defender a plebe com quem convive e agitador na faculdade, onde luta de forma brutal pelas idiais Jacobitas, o seu carácter se transforma, e repentinamente, a partir do capítulo 2. É que conhecera e amara, durante os três meses em que esteve em Viseu, a vizinha Teresa. Ele com 17 anos, ela com 15, passam a viver desde então o amor romântico: um amor que redime os erros, que modifica as personalidades, que tem na pureza de intenções e na honestidade de princípios as suas principais virtudes. Aliás, são as virtudes que caracterizam os sentimentos de Simão, desde que experimenta este amor. Torna-se recatado, estudioso e até religioso, o que não o impede de sentir uma sede incontrolável de vingança, que resulta no assassinato do rival Baltasar Coutinho. Esse ato exemplifica a proximidade entre “o sentimento moral do crime” ou “o sentimento religioso do pecado” e a tentativa de consumação do amor. O modo como assume este crime, recusando-se a aceitar todas as tentativas de escamoteá-lo, feitas pelos amigos de seu pai, acaba de configurar o carácter passional do comportamento de Simão.Trata-se de um típico herói ultra-romântico, em outras palavras.

Teresa de Albuquerque - Protagonista, menina de 15 anos que se apaixona por Simão, também sai adquirindo densidade heróica ao longo da obra: firme e resulta em seu amor, ela mantém-se inflexível perante os pedidos, as ameaças -e finalmente as atrocidades e violências cometidas pelo pai severa e autoritário, seja pata casá-la com o primo, seja para transformá-la em freira. Neste sentido, a obstinação que a caracteriza é a mesma presente em Simão, com a diferença de que nela o heroísmo consiste não em agir, mas em reagir. Isto por pertencer ao sexo feminino, símbolo da fragilidade e da passividade perante o carácter viril, másculo, quase selvagem do homem romântico. Na medida em que não faz o jogo do pai, dando a vida pelo sentimento que a possui, Teresa constitui uma heroína romântica típica, um exemplo da imagem da mulher anjo que vigorou no Romantismo.

Mariana - Moça pobre e do campo, de olhos tristes e belos, tem sido considerada, algumas vezes, como a personagem mais romântica da história, porque o sentir a satisfaz, sem necessidade ao menos de esperança de concretizar-se a seu amar par Simão. Independente do amor entre Simão e Teresa, Mariana o ama e todo faz por ele: cuida de suas feridas, arruma-lhe dinheiro, é cúmplice da paixão proibida, abandona o pai para fazer-lhe companhia e prestar-lhe serviços na prisão e, finalmente, suicida-se após a morte de Simão. Estas atitudes - abnegadas, resignadas e totalmente desvinculadas de reciprocidade, fazem de Mariana uma personificação do espírito de sacrifício, o que torta a sua dimensão humana abstracta, pouco palpável.

Domingos BotelhoO pai de Simão e Tadeu de Albuquerque, o pai de Teresa, são tão passionais, tão radicais em seu comportamento, quanto Simão e Teresa. Entretanto, ambos podem ser considerados simetricamente o oposto dos heróis, na medida em que representam a hipocrisia social, o apego egoísta e tirano à honra do sobrenome, aos brasões cuja fidalguia e é ironicamente ridicularizada, desmoralizada pelo narrador.

Baltasar Coutinho - O primo de Teresa assassinado por Simão, acrescenta à vilania do tio, de quem se faz cúmplice, a dissimulação, o moralismo hipócrita e oportunista de um libertino de 30 anos, que covardemente encomenda a criados a morte de Simão. Em suma, nele se concentram toda perversidade, toda a prepotência dos fidalgos. Tal personagem constitui. sem nenhuma duvida, o vilão da historia.

João da Cruz - O pai de Mariana, destaca-se como personagem mais sensato, mais equilibrado, o único personagem que possui traços realistas, de Amor de Perdição. Ferreiro e transformado em assassino numa briga, João da Cruz consegue de Domingos Botelho, pai de Simão, a liberdade. Em nome dessa divida de gratidão, torna-se protector do herói com palavras sempre oportunas, lúcidas, estratégicas, e com atos corajosos e violentos, quando necessário. A sua linguagem cheia de provérbios e ditados populares, a simplicidade de sua vida, somadas ao amor que dedica à filha, por quem vive, desfazem aos olhos do leitor os crimes que comete e os substituem por uma honradez, uma bondade inata. forte e viril, que nos parecem representativas da visão do autor a respeito das coroadas rurais em Portugal.


Ritinha :Distingue-se das outras irmãs de Simão pela sua capacidade afetiva.Representa, para Simão, o único laço familiar genuíno. Porque é conduzida por aquilo que sente e não pelas convenções que lhe são impostas.A sua ligação a Simão leva-a a ser ela a relatora da sua história ao autor da obra, quando este era criança.

Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho : Representam o antagonismo motivado pelo preconceito de honra social.São inflexíveis nas suas decisões e baseiam-se no seu próprio orgulho e nas suas conveniências sociais.Preferem perder os filhos, reduzindo-os à dimensão de objetos, a perder a dignidade social.

D. Rita Preciosa representa a convencionalidade do sentimento materno .Age mais por obrigação familiar do que por motivos afetivos; ajuda Simão porque esse é o seu papel e não porque o amor de mãe a leve a perdoar e a compreender as atitudes do filho.

                        NARRADOR


  • Não participante – heterodiegético – é apenas narrador, não é personagem, recorrendo à terceira pessoa gramatical; é omnisciente, pois tem um conhecimento total e absoluto sobre a história e as personagens dessa história: sabe o que é exteriormente observável, mas também o que faz parte do interior das personagens; o narrador é judicativo/ parcial, pois expressa opiniões e emoções.

                              ESPAÇO

O espaço físico, em Amor de Perdição, conhece um afunilamento progressivo à medida que a acção trágica se encaminha para o seu clímax e, posteriormente, para o desenlace final. Assim, de um espaço amplo exterior onde as personagens evoluem livremente, passa-se para um espaço fechado e reduzido onde as personagens são encarceradas. Este espaço reduzido simboliza a prisão da própria vida, visto que estão enclausuradas na dimensão da própria tragédia.

  • Verifica-se, ainda, que, quanto maior é a privação de liberdade, menor é o espaço onde evoluem as personagens.
Alguns elementos relacionados com os espaços que adquirem uma simbologia importante nesta obra:
As grades: além das grades materiais que impressionam Simão, simbolizam os obstáculos sociais que motivam o seu encarceramento.
A janela: é a ligação entre o interior e o exterior; é conotada, simbolicamente, com a interioridade de Simão e de Teresa e com a sociedade. Funciona, ainda, como a cisão entre as personagens e ao espaço social onde estão inseridos. Associada aos olhos, que são o “espelho da alma”, refletem o interior psíquico das personagens que se situa a outros níveis presentes na obra, através dos sentimentos dos protagonistas: aqui (hostil) que se opõe ao além (esperança e ilusão fecundante).
Os fios: simbolizam a ligação eterna dos amantes (cartas) que não se desfaz após a morte, é uma união total do par amoroso. Os próprios amantes acreditam nessa união eterna (as cartas são testemunhas dessa teoria). O fio é também o símbolo do destino (mito das 3 moiras). O tempo liga-se directamente ao destino que terá de ser cumprido. Com a morte esse fio quebra-se, Mariana antes de suicidar lança as cartas e o seu avental ao mar reatando de novo os amantes.
O mar : é fonte de vida, o corpo de Simão, metaforicamente, sítio de renascimento. O mar espelha o céu, espaça onde os amantes poderiam consumar o seu amor puro, pois na terra eram condenados pelos homens.
O avental: assume um valor polissémico, ligado à condição social de Mariana e o seu sofrimento; ela limpa as suas lágrimas quando chora por Simão. Referências ao seu estado de loucura, quando Simão está na prisão, num caixote encontram-se as cartas de Teresa e o avental de Mariana. A sua simbologia reúne o trabalho e o martírio, significando o percurso de Mariana na terra que é uma forma de purificação.
Desta forma, continua presente, simbolicamente, a tragédia do triângulo amoroso, vitimado por um destino que os conduz à morte, única solução para a realização de uma vida cujos anseios mais profundos das personagens eram irrealizáveis.

                         TEMPO

Tempo diegético (tempo vivido pelas personagens) – acção decorre entre os finais do século XVIII e início do século XIX.
O tempo diegético (tempo da história) caracteriza-se por:
· a cronologia;
· a linearidade.
Na introdução, abarcam-se 40 anos, são os antepassados de Simão.
A acção decorre em 6 anos (1801 - 1807):
· 1801, Domingos Botelho corregedor em Viseu, Simão tem 15 anos.
· 1803, Teresa escreve uma carta a Simão, revelando as intenções de seu pai de a enviar para um convento.
· 1804, Simão é preso.
· Prisão de Simão de 1805 a 1807. Antes de embarcar para o degredo, fica 20 meses na prisão.
· 17/3/1807, Simão parte para a Índia.
· 28/3/1807, ao romper da manhã, Simão morre.
· tempo do discurso (forma como o narrador elabore o seu relato).

  • Visto que o discurso é linear, o narrador segue a ordem cronológica dos acontecimentos (podemos referir, no entanto, a analepse em que João da Cruz conta a forma como matou o almocreve; há resumo na introdução).
Conotações simbólicas do estado do tempo:

  • Simão morre “ao amanhecer, depois de um formoso dia de Primavera” (o dia 28 de Março), que se seguiu a vários dias de tempestade. A primavera e a manhã estão conotadas com a luz, com a pureza de um tempo, ainda libertos de corrupção. Trata-se de um momento de promessa e de felicidade. Assim, da escuridão e da morte, relacionadas com o caos, nasce o amor verdadeiramente purificada por um tempo transcendente ao dos humanos – é o período da realização e da plenitude.

  • É ainda importante visar que, ao sétimo dia de viagem, acalmou a tempestade – o número 7 corresponde ao dia da Ordem, aquele em que, após a criação do mundo, Deus descansou. O 7 remete para a luz e para a plenitude temporal. E, ao nono dia, Simão delira pela última vez e são as cartas e as promessas de felicidade que ecoam na sua memória. O 9 é o número da gestação, o do final de um ciclo para iniciar outro.



                               FOCO NARRATIVO

  • Do ponto de vista do foco narrativo, ou da postura do narrador perante a história, os elementos realistas de Amor de Perdição estão na critica às instituições religiosas, os conventos, e no comportamento não-passional de alguns personagens secundários, como João da Cruz, É possível perceber estes elementos nas passagens da obra em que o narrador denuncia a corrupção do convento de Viveu e enfatiza a lealdade, o senso prático, a sensatez de João da Cruz, relativizando assim a passionalidade predominante no romance.

  • Escrita em terceira pessoa, esta obra caracteriza-se por um narrador onisciente, isto é, um narrador que desvenda o universo interior dos personagens, sabendo mais do que eles próprios, o que lhes passa pela mente e pelo coração. O tipo de onisciência deste narrador pode ser classificado como onisciência intrusa, na medida em que ele não só revela mas também comenta os sentimentos e comportamentos dos personagens, deixando claro o seu ponto de vista a favor dos que amam e contra os que impedem a realização do amor

  • O episódio mais representativo do romance, no sentido de provocar lágrimas nos leitores românticos e risos nos leitores realistas, ocorre no seu desfecho, quando o tema da ‘morte por amor” atinge o clímax: Teresa morre no convento, ao sentir irreversível a perda de Simão, o qual, por sua vez, é tomado de uma febre fatal, no navio que o levaria pura longe da amada, quando fica sabendo de sua morte. Já Mariana, apaixonada por Simão, atira-se ao mar agarrada ao seu corpo.


                              ENREDO

  • Na introdução do romance, o narrador-autor reproduz o registro de prisão de Simão Botelho nas cadeias da Relação do Porto e antecipa o degredo do moço, aos 18 anos, em circunstância ligada a uma paixão juvenil, bem como o desenlace trágico da história. Falando diretamente ao leitor, imagina a reação que tal história pode provocar: compaixão, choro, raiva, revolta frente a falsa virtude alegada pelos homens em atos injustos e bárbaros.

  • Passa então a contar a história da família de Simão Botelho. Principia acompanhando a trajetória de seu pai, Domingos Botelho, que,   formado em Direito, inicia sua carreira em Lisboa, onde cai nas graças dos reis. Na Corte, se apaixona por uma dama de D. Maria I, D. Rita Castelo.

  • Após dez anos de tentativas de aproximação e conquista, casam-se por fim em 1779. Em 1801, estão fixados em Viseu, em companhia de suas três filhas. Seus dois filhos estudam em Coimbra. Manuel, o mais velho, muito reclama de seu irmão Simão, ao que o pai não dá muitos ouvidos. Antes até se orgulha de sua valentia e dos resultados acadêmicos de Simão. Mas quando Simão, em férias em casa, se mete numa briga, em defesa de um criado que fora espancado, seu pai enfurecido o quer ver preso. Sua mãe o ajuda na fuga para Coimbra, onde aconselha que o filho aguarde aplacar a fúria do pai.


  • Simão, no entanto, mais seguro de si e de sua coragem do que nunca, começa a defender publicamente a Revolução Francesa e, por isso, acaba retido em cárcere acadêmico por seis meses. Perdido o ano escolar, retorna à casa dos seus pais. Domingos Botelho se mantém frio e distante, não dirigindo a palavra ao filho.


  • Grande e misteriosa transformação vai se operando em Simão, que muda completamente seu comportamento: sai pouco, fica longamente no próprio quarto, mantendo-se pensativo. Tal transformação faz com que, findos cinco meses, o pai consinta que o filho lhe dirija à palavra. Desconhece a esse momento Domingos Botelho a real razão da mudança de seu filho: o rapaz nos seus 17 anos está apaixonado pela filha do vizinho, um inimigo de seu pai. A inimizade tinha se concretizado quando Domingos Botelho dera sentenças contrárias aos interesses de Tadeu de Albuquerque e azedado mais um vez quando Simão machuca empregados de Tadeu em recente briga.


  • Por três meses, Simão e Teresa encontram-se e falam às escondidas, sem levantar nenhuma suspeita. Sonham casar-se e fazem planos para concretizar seus desejos de vida em comum.

  • Na véspera do retorno de Simão à Coimbra, os enamorados falam-se pela janela, quando subitamente Teresa é arrancada da frente de Simão. É seu pai, reagindo fortemente ao flagrante. Simão se desespera, tem febre, mas assim mesmo parte para Coimbra, com o plano de retornar secretamente para se comunicar com Teresa. Momentos antes de sair em viagem recebe da mão de uma mendiga um bilhete, em que Teresa lhe revela as ameaças de seu pai de encerrá-la num convento. Pede, no entanto, que Simão siga para Coimbra, garantindo que se manterá em contato. 


  • Rita, a irmã caçula de Simão, e Teresa começam a travar uma amizade secreta, com conversas sussurradas através das janelas. Numa destas conversações são flagradas e Rita, ao ser pressionada pelo pai, conta tudo o que sabe.


  • Tadeu de Albuquerque percebe também o incidente, mas se mantém tranqüilo. Não que tenha passado a ver com melhores olhos o namoro: tem para consigo mesmo a convicção de que o melhor remédio para curar aquela paixão é o silêncio e a distância. Planeja secretamente casar a filha com um primo, Baltasar Coutinho. Chama logo o rapaz a Viseu, conta seus planos e lhe incentiva a cortejar a filha.


  •  Teresa, no entanto, se nega a Baltasar, que insiste em conhecer suas razões: quer ouvir a confissão da prima sobre seu rival. Jura se pôr contra àquela relação, substituindo o tio neste função se necessário.



  • Tadeu reage fortemente à atitude de sua filha, sentindo-se ofendido no seu direito de pai e decide mandá-la para o convento. Mas nada faz de imediato. Teresa manda semanalmente cartas a Simão, mas lhe esconde as principais ameaças, sobretudo o que escutou de seu primo Baltasar, para evitar um confronto entre os dois. Seu pai, no entanto, trama em segredo sua cerimônia de casamento com Baltasar. Novamente, Teresa se nega. Desta vez, tudo relata a Simão. O rapaz inicialmente tem ímpetos de se vingar, mas, para preservar a possibilidade de felicidade dos dois, acaba por conter-se.


  • No meio tempo, aluga um cavalo e, quando o arreeiro vem trazer-lhe a montaria, pede-lhe indicação de um refúgio em Viseu. Fica acertada uma hospedagem na casa do primo do arreeiro, o ferrador João da Cruz. O arreeiro encaminha correspondência para Teresa. Ao longe, Simão percebe que na casa de sua amada está acontecendo um festa. 
 
  • É uma nova investida de Tadeu. Planeja agora propiciar convívio social a Teresa, na esperança que assim ela deixe de teimar em amar o único rapaz que conhece. O primo Baltasar se encontra entre os convidados e observa todos os passos de Teresa. Percebe assim quando Teresa sai da sala e se dirige ao fundo do quintal. A menina volta logo, mas o primo continua a observá-la e, numa segunda escapada, a segue até o jardim.


  •  Teresa percebe seu vulto e se assusta, retornado a casa. Ao pai, Teresa alega que está sentindo dores. Mas como o primo Baltasar não é encontrado na sala, Teresa se oferece para ir procurá-lo lá fora. Aproveita a oportunidade para ir ao encontro de Simão que a esperava junto ao muro e dizer que retorne no dia seguinte. Baltasar, ainda escondido, denuncia sua presença a Simão e o ameaça, sem contudo revelar sua identidade.


  • Trocam os enamorados correspondência. Simão passa o dia na casa do ferrador, que lhe revela se sentir a ele unido por dever de gratidão: o ferrador escapou há três anos da forca por intermédio do pai de Simão. Coincidentemente, há mais tempo ainda, foi empregado de Baltasar Coutinho, que lhe emprestou dinheiro para se estabelecer e, há coisa de poucos meses, lhe chamou pedindo que matasse um homem: o próprio Simão. O ferrador fora na ocasião contar tudo a Domingos Botelho, que, reagindo muito, pôs-lhe a par de toda a situação. O ferrador aconselha-o a tentar resolver a história por alguma outra via, mas Simão insiste em ir ver Teresa à noite. O ferrador então se prepara para acompanhá-lo.


  • Seguem a Viseu Simão, o ferrador e o arreeiro. Baltasar Coutinho e dois homens estão preparando uma tocaia. Ambos os grupos discutem suas estratégias. Simão mal se avista com Teresa e o clima fica tão tenso e perigoso, que o grupo planeja a retirada. No caminho, encontram mesmo os homens de Baltasar; matam um e ferem o outro. Simão tenta dissuadir João da Cruz a consumar o segundo assassinato, mas o ferreiro não o escuta. Os crimes permanecem um mistério, sem testemunhas e sem ninguém em condições de denunciá-los, já que todos os envolvidos têm sua parcela de culpa e participação.


  • No embate, Simão fora ferido e passa por temporada de recuperação na casa do ferreiro. É cuidado por Mariana, de quem aos pouco descobre o amor.


  • Enquanto isso, Teresa é levada provisoriamente ao convento de Viseu, enquanto não se completam os preparativos para sua transferência para o convento de Monchique, no Porto. É introduzida de imediato nas intrigas e vícios das freiras, seus namoros e vida sexual, o consumo de bebida, as disputas pelo poder. Mas ainda assim encontra o favor de uma das freiras, que se compromete a restabelecer sua correspondência com Simão. À noite, quase no escuro, Teresa escreve carta para Simão. 
 
  • O rapaz, ao receber a carta com notícias do convento, escreve resposta e pede que o ferrador se encarregue de encaminhá-la. O ferrador percebe que o rapaz está quase sem dinheiro e com a filha inventa uma forma de resolver também este problema de Simão: dizem que a mãe lhe enviou dinheiro.


  • Prepara-se a mudança de Teresa para Monchique e cresce a desesperança dos amantes. Sonham com a fuga. Simão, ao saber que é eminente a ida de Teresa para o Porto, fica transtornado e se prepara para tentar raptá-la. 


  • Envia por Mariana uma carta, entregue em mãos a Teresa no convento. Em resposta a Simão, Teresa manda dizer que de nada adiantam os planos de fuga porque uma grande escolta a acompanha na viagem, incluindo o primo Baltasar... Simão se aflige em especial com este detalhe da notícia. Resolve assim mesmo ir ver Teresa à saída do convento e João da Cruz se prontifica a acompanhá-lo, com um grupo, para que possam proceder a um rapto. Simão não aprova o plano, mas mantém em segredo a decisão de ir ver Teresa


  • Noite alta, Simão aguarda nas proximidades do convento. Às quatro e meia, começa a movimentação da comitiva, formada por Tadeu de Albuquerque, criados, Baltasar e suas irmãs. Tão logo saem todos, Simão os intercepta. Agredido verbalmente por Baltasar, reage e, quando o rival avança, responde com um tiro de pistola. Neste momento, surge o ferrador que incita Simão fugir. Simão, no entanto, se recusa.

  • O meirinho-geral, vizinho do convento, chega rapidamente e lhe sugere novamente a fuga, que novamente é recusada.


  • O crime rapidamente chega ao conhecimento da família Botelho. As irmãs choram, a mãe espera que o pai interceda favoravelmente ao filho, mas Domingos Botelho é duro: espera que a lei se cumpra com rigor. A situação de Simão é péssima: confessa tudo, sem nem alegar legítima defesa. O pai se nega inclusive a lhe financiar o conforto e as primeiras necessidades na cadeia e decide mudar com a família de Viseu, para que ninguém se sinta coagido a facilitar a situação de Simão.

  • Já na cadeia, Simão recebe almoço mandado por sua mãe e acompanhado de uma carta. Pelos dizeres da mãe, acaba por concluir que a ajuda que recebera anteriormente não viera dela e passa a recusar qualquer auxílio materno. Em seguida, recebe cuidados de Mariana, que providencia mobília para a cela e o alimenta durante o período de espera do julgamento. Simão é condenado à forca. Mariana, tão logo sai a sentença, sofre de um ataque de loucura.


  • Amigos, conhecidos, familiares e sobretudo sua mãe, Rita, pressionam seu pai a interceder em seu favor, mas Domingos Botelho, residindo afastado da família, resiste a fazê-lo. Até que um tio o põe contra a parede. Domingos Botelho age, movido também pelo prazer em se mostrar mais influente que Tadeu de Albuquerque. Consegue assim a comutação da pena do filho para um degredo de dez anos na Índia.


  • Enquanto isso, Teresa se encontra no convento de Monchique, no Porto. Acompanhada de uma criada, Constança, e bem tratada pela sua tia, prelada do convento. Consegue brecha para mandar carta a Simão, onde manifesta que também se sente à espera da morte. Cai doente e só apresenta alguma melhora ao receber notícia de que Simão será transferido para o Porto. Temendo estarem os dois enamorados na mesma cidade, Tadeu planeja mudar Teresa novamente para Viseu. A tia prelada, usando para tanto das normas do convento, o impede de levar a filha.

  • Na cadeia da relação no Porto, Simão recebe a visita de João da Cruz, que vem acompanhado da filha, já recuperada. Mariana quer novamente servir a Simão. Também restabelece-se a possibilidade de correspondência com Teresa.


  • João da Cruz retorna a Viseu, deixando Mariana com Simão. Pouco depois é morto em vingança de um antigo crime. Mariana então retorna a Viseu e vende tudo o que seu pai lhe deixou, com a intenção de estar livre para acompanhar Simão no seu degredo.


  • Uma última decisão judicial ainda permitiria que Simão cumprisse sua pena na prisão de Vila Real, mas este se recusa a aceitar tal mudança. Prefere a liberdade de poder ver o céu e sentir o vento em país estrangeiro do se manter em uma cela. Teresa ainda tenta mudar-lhe a decisão, mas não consegue. Passam-se ainda alguns meses até que em 17 de março de 1807 Simão da Botelho embarca para a Índia. Mariana, sem maiores dificuldades, consegue um lugar à bordo.


  • Simultaneamente, no convento, Teresa relê uma a uma as cartas de Simão, as enlaça e entrega para Constança com o pedido de que sejam entregues a Simão. Às nove da manhã sobe para o mirante, de onde é possível assistir à partida dos navios. Simão pede a Mariana que lhe mostre o convento e vê Teresa acenando. Lá mesmo no mirante, Teresa morre. O capitão do navio conta a Simão detalhes da morte de Teresa e promete a esse que, caso algo lhe aconteça, reconduzira Mariana a Portugal.


  • Nesta noite, Simão lê a derradeira carta de Teresa, que lhe chegou junto ao maço de correspondência. Na manhã de 28 de março, morre em alto-mar Simão Botelho, depois de sofrer durante nove dias febres e delírio. No mesmo instante que os marujos arremessam o corpo de Simão ao mar, Mariana se atira.

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