Farsa de Inês de Pereira ( Análise Crítica da Obra de Gil Vicente )
- Portugal estava no auge de seu império quando "Farsa de Inês Pereira" foi representada pela primeira vez, no ano de 1523. Com o desenvolvimento do capitalismo mercantil e a decadência da nobreza feudal, o país vivia em uma grande contradição: de um lado estava o Portugal rural e camponês (maior parte do país), e de outro estava a rica cidade da corte, Lisboa. Dentro desse cenário, tinha-se a plebe tentando de todas as formas obter ascensão social, e a decadente nobreza feudal tentando assegurar seu alto status.
- Enquanto a nova classe burguesa via a expansão marítima sob o ponto de vista do capitalismo mercantil, a decadente aristocracia ainda se baseava nos valores ideológicos medievais, ou seja, as expansões marítimas eram vistas com um carácter heróico e religioso, como nas antigas cruzadas medievais. Isso era devido ao fato da aristocracia não conseguir manter o novo padrão de riqueza exigido pelo comércio ultramarino. Assim, para tentar manter seu status social, a aristocracia enaltecia os velhos valores cavalheirescos: origem de sangue, fineza, boas maneiras, honra e coragem. Dessa forma, todos aqueles que quisessem obter ascensão social deveriam se enquadrar nesse molde ditado pela decadente, porém ainda influente, classe aristocrática.
- Esse é o núcleo temático presente nessa obra de Gil Vicente. Nela, a personagem Inês Pereira, uma típica pequeno-burguesa que despreza a vida rústica do campo, sonha em conseguir através do casamento sua ascensão social. A figura de seu homem ideal (cavalheiro elegante, educado e com trato social) é o típico representante da fidalguia. A ausência de escrúpulos de Inês Pereira, que primeiro casa-se por interesse com Brás da Mata e, após ficar viúva, casa-se com Pero Marques e o trai descaradamente, é emblemática da forma de pensar disseminada na época.
- O escudeiro Brás da Mata, representante de uma camada social decadente, aparece como uma personagem que procura imitar os trejeitos de seus superiores. Através da imagem de um degradante cavalheiro heroico e educado, Gil Vicente critica não só a classe dos escudeiros presunçosos, que já não têm mais o status social de antes, mas também toda a aristocracia, que também agia como uma caricatura.
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